Homenagem póstuma a Alfredo Sirkis

Ambientalista e político, foi pioneiro na luta pela preservação do meio ambiente e um dos fundadores do Partido Verde no Brasil, vereador e deputado federal. Jornalista e escritor premiado, faleceu num acidente de automóvel no dia 10/07/20, em trajeto que percorria com frequência para visitar sua mãe, de 97 anos de idade, que se encontrava em isolamento social em companhia do neto Guilherme, no sítio da família em Morro Azul, Paulo de Frontin.

Alfredo Sirkis, que recebeu o nome em homenagem ao avô materno, nasceu no Rio de Janeiro em 1950, filho único de imigrantes judeus poloneses que aqui chegaram após a 2ª Guerra Mundial e cuja história vamos relembrar mais adiante.

Alfredo iniciou-se na política estudantil na época em que frequentava o Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAp/UFRJ) e participou de manifestações contra a ditadura militar. Foi integrante do grupo Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que praticou ações de guerrilha urbana, incluindo sequestro de diplomatas. Em 1971 abandonou o movimento e se exilou no Chile, Argentina e Portugal, regressando ao Brasil em 1979, com a Lei da Anistia.

Ao voltar do exílio, dedicou-se à carreira de escritor. Em 1980, publicou suas memórias no livro Os Carbonários, que se tornou um best-seller e conquistou o Prêmio Jabuti de 1981. No ano seguinte, lançou Roleta Chilena, sobre seus dois primeiros anos no exílio e, em 1983, Corredor Polonês, romance baseado na trajetória de seus pais. Foi autor de um total de nove livros, dos quais o último – Descarbonário, lançado no início deste mês de julho e cujo título é um trocadilho com o título das suas memórias, fala sobre mudanças climáticas e a necessidade de redução do gás carbônico na atmosfera. Como jornalista, atuou nas revistas “Isto É” e “Veja”, além de colaborar com artigos para vários outros jornais, e escreveu roteiros para a TV Globo. 

Em janeiro de 1986, foi um dos fundadores do Partido Verde e, em 1991, assumiu a presidência nacional do partido. Em 1988, elegeu-se vereador do município do Rio de Janeiro, sendo o mais votado, com 43 mil votos. Foi vereador por quatro mandatos consecutivos, secretário municipal de urbanismo e presidente do Instituto Pereira Passos entre 2001 e 2006 e secretário municipal de meio ambiente, entre 1993 e 1996. Foi responsável pela implantação de projetos de reflorestamento em áreas desmatadas de diversas comunidades, construção de ciclovias e criação de áreas de proteção ambiental (APA’s), dentre inúmeras outras iniciativas voltadas à proteção do meio ambiente e à melhoria da qualidade de vida no município. 

Em 1998 foi candidato à presidência da república pelo Partido Verde, com o objetivo de divulgar as propostas do partido. Em 2011, foi eleito deputado federal e presidiu a Comissão Mista de Mudança do Clima do Congresso Nacional e, em 2010 e 2014, foi um dos principais articuladores das campanhas de Marina Silva à presidência da república. Entre 2005 e 2017, foi membro da delegação brasileira em
seguidas Conferências do Clima (COP) e, também, integrou as comissões executivas do ICLEI (International Council for Local Environmental Initiatives). Entre outubro de 2016 e maio de 2019, foi o Coordenador Executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), até ser exonerado do cargo pelo presidente Jair Bolsonaro. Atualmente, era diretor executivo do Centro Brasil no Clima.

Muitos companheiros,  amigos e líderes políticos manifestaram sua tristeza pela inesperada perda de Alfredo Sirkis e expressaram solidariedade à sua família, destacando a corajosa luta de Sirkis pela democracia e pelo meio ambiente e a falta que fará ao Brasil. Nós, da Polonia Sociedade Beneficente-RJ, unimo- nos a este coro e reiteramos aqui nossas expressões de pesar à sua família, em particular à sua mãe, Sra. Liliana, sobre cuja vida Alfredo tinha feito recentemente um belíssimo documentário, intitulado “Lila”, baseado na autobiografia dela. 

Não podíamos concluir esta homenagem sem falar sobre os pais de Alfredo, integrantes durante muitos anos da comunidade polonesa no Rio de Janeiro, que se reúne em nossa Sociedade e da qual seu pai, Eugênio Syrkis foi diretor-tesoureiro e membro proeminente da associação dos ex-combatentes poloneses (SPK-RJ). 

Eugênio Syrkis, originário da cidade de Lódz, foi preso pelos bolcheviques em 1939, durante a invasão da Polônia pelo exército da União Soviética, porém após a invasão da Rússia pelos nazistas, os prisioneiros poloneses foram anistiados. A 1ª Divisão de Infantaria “Tadeusz Kosciuszko” (TK), na qual Eugenio Syrkis combateu durante a II Guerra Mundial, foi constituída, na sua maior parte, por poloneses que deixaram as prisões e os campos de trabalhos forçados graças à Anistia de 1941, porém não saíram imediatamente daquele país. A Divisão de Infantaria “TK” lutou contra os alemães na batalha de Lenino e na liberação da cidade de Varsóvia.

Em 1944, o conjunto das forças armadas polonesas no leste passou a ser denominado de Exército Popular Polonês, sob as ordens do governo comunista subordinado à União Soviética e a Divisão “TK” esteve à frente da tomada de Berlim, em 2 de maio de 1945. Após ser desmobilizado, o Cap. Eugenio Syrkis deixou seu país natal rumo ao Rio de Janeiro para reencontrar sua mãe, Rosa Poznanska, que se encontrava em Paris quando a Polônia foi invadida pelos nazistas e, por ser judia e temer os acontecimentos futuros, optou por não voltar à Polônia e emigrou para o Brasil, onde tinha parentes.

Em 1949, Eugênio casou-se com Liliana (Lila) Binensztok, nascida na cidade de Pinsk, no leste da Polônia (hoje, na Bielorússia). Seu pai, Alfred Binensztok, oficial-dentista do exército polonês, foi um dos 8 mil oficiais polonesas executados por ordem de Stalin no massacre da floresta de Katyn, mas isso a família só veio a saber bem mais tarde.

Em 1940, Lila, sua mãe e a irmã menor Janete, foram deportadas para a Sibéria pelos bolsheviques, o que, paradoxalmente, salvou-lhes a vida pois, quando os nazistas ocuparam Pinsk, todos os moradores judeus foram assassinados. Ao final da II Guerra Mundial Lila regressou à Polônia, trabalhou brevemente em Varsóvia, porém logo depois ela, sua mãe e a irmã também acabaram por deixar o país e após uma passagem por Estocolmo, emigraram para o Brasil.

Aqui, Lila conheceu Eugênio Syrkis, com quem se casou em 1949. Trabalhou na Casa Colette, da qual mais tarde se tornou proprietária, maison de alta-costura que atendia as primeiras-damas do país, como D. Sara Kubitschek e senhoras da alta sociedade. 

Naturalizou-se brasileira usando o nome de Liliana e ficou conhecida como a grande dama da alta-costura no Rio de Janeiro, e sua Casa Colette funcionou até 2006. Dona de grande capacidade de superação e de um coração extremamente generoso, talvez lembrando seus sofrimentos durante o exílio na Sibéria, sempre se preocupou e procurou ajudar os menos favorecidos. Em 2009, escreveu o livro “LILA” e o dedicou aos seus netos, para que pudessem conhecer a sua história.

Liliana e Alfredo

Autobiografia

Eugenio Syrkis

Autobiografia

Eugenio Syrkis

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